Mesmo longe, nunca saí de lá...
Há lugares que não nos deixam, mesmo quando a vida nos empurra para longe. Povoação é esse lugar para mim. Não é só a terra onde nasci — é o ponto de partida de tudo o que sou. Está entranhada em mim, não pela geografia, mas pelas pessoas, pelas histórias, e pelos valores que moldaram o meu coração.
Ali aprendi o que realmente importa. Aprendi que dizer "bom dia" tem peso, que partilhar é natural, que cuidar dos outros não é um gesto especial — é um hábito diário. Cresci a ouvir a minha mãe chamar da janela ao fim do dia, quando o céu já se vestia de laranja e a rua se esvaziava devagarinho. Cresci rodeado de simplicidade, onde cada gesto era verdadeiro e cada palavra tinha alma.
Povoação ensinou-me a respeitar os mais velhos, a honrar a palavra dada, a ajudar sem esperar recompensa. Ensinou-me que a humildade é força e que a generosidade é uma herança invisível que se transmite no silêncio dos atos. Esses valores não vieram em discursos — vieram na forma como a minha mãe vivia, como os vizinhos se cuidavam, como se fazia muito com tão pouco.
Hoje, os caminhos levaram-me para longe. E, quando volto, sei que posso já não encontrar as mesmas pessoas, as mesmas vozes, os mesmos abraços. Mas há algo que nunca muda: volto sempre com a alma preenchida. Basta um cheiro, uma pedra no mesmo sítio, um olhar conhecido — e tudo em mim se reconecta.
É ali que volto a ser inteiro.
Escrevo isto por saudade, sim. Mas acima de tudo, por gratidão. Porque há raízes que não se veem, mas que sustentam tudo o que somos. E as minhas, por mais longe que vá, estão cravadas para sempre naquela terra junto ao mar: a minha Povoação!!!
Paulo Ferro, 03/06/2025
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